quinta-feira, novembro 09, 2006

A Descoberta do Novo – Uma bela reflexão de Artur da Távola.


“Para ficar com a própria verdade talvez seja necessário perder um amor que não corresponda à verdade profunda do ser.
Só quem é capaz de enfrentar a solidão adquire a coragem do ser. Se é possível enfrentar a solidão(ainda que como uma indesejável companheira), então adquire-se o direito de ser. Ser é adequar a vida às próprias características. Adequar a vida às próprias características é libertar-se através da verdade interior. Libertar-se através da verdade interior é alcançar a coragem de ser.
As vezes precisamos de um abalo violento para perceber a existência, em nós, de partes adormecidas ou amortecidas por uma situação dolorosa ou depressiva; ou por hábitos e repetições de uma vida inteira.
O Novo emerge de dentro das dores e instantes de felicidade vêm morar com a depressão, como os brotos verdes visíveis nos campos e morros incendiados em seguida à queimada, proclamando vida, e existência de renovação, eternamente. Sentimentos e impulsos não dependem dos freios que as regras, leis, a conveniência lhes colocam. Podemos e devemos, até, aceitar tais freios, como normas de conduta equilibradora. O que não podemos é negar a existência de tais sentimentos e impulsos como próprios do ser humano e repletos de um valor específico que corre paralelo aos valores anteriormente aceitos por nós.
A vida não pára. O novo se impõe, inelutavelmente. Quando estamos doentes de depressão (ou de repetição) emitimos vibrações negativas e antigas diante de situações sempre novas. Aplicamos fórmulas e sentimentos já conhecidos ao que deveria ser aceito como surpresa, acaso, renovação permanente. Se soubermos perceber a dosagem exata de renovação e surpresa necessárias à adubagem de nossas repetições, ecos e velharias, então saberemos viver: então venceremos as depressões. Novo demais embriaga. Novo de menos esclerosa. O novo é inevitável: nós é que não percebemos.
Temos instâncias guardadas e dormentes, que independem dos sentimentos dominantes no momento. Se algum forte abalo, algum acordar repentino (e até meio violento) movimenta essas instâncias, ai descobrimos a nossa infinita possibilidade de riqueza, sempre guardada, indescoberta e subdesenvolvida em função de nossa tendência de só querer viver e amar como o que já somos e já sabemos.”

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