sábado, novembro 13, 2010

Considerações sobre a Feira do Livro em 2010 em Porto Alegre


Ontem vivi três momentos marcantes em visita a Feira do Livro em Porto Alegre. - O primeiro foi a participação no I Seminário Nacional de Crítica e literatura com os autores - Zuenir Ventura e Luiz Fernando Verissímo que abriram o evento. Quando soube que Luiz Fernando Verissímo iria participar das conversações, fiquei um pouco preocupada. É fato que tão ilustre autor sabe manusear palavras mas não gosta muito de articulá-las. Quanto a Zuenir, sempre foi e é bem falante. No início do bate-papo mediado por Roger Lerina, jornalista RBS, foi muito agradável. Ao contrário do que pensei, Luiz Fernando deu preciosas contribuições e gerou algumas boas risadas na platéia. Vendo ali, dois autores tão presentes comecei a pensar o quanto eles sempre fizeram parte da minha vida. Fui apaixonada por Érico Verissímo, quase ao mesmo tempo que curtia a paixão pelo filho Luiz Fernando. 
Eu tinha 16 anos e estudava no Instituto Educacional São José, vivíamos um tempo de ditadura. Na época eu vivia preocupada com meus pais, com minhas notas e de como pagaria uma faculdade. Um dia, na volta pra casa entrei na livraria do Globo( na época em que livraria era livraria mesmo e não shopping) e olhando os livros, abri um de LFV e li a história de Ed Morte. Comecei a rir até que um vendedor me alertou que os livros eram para ser comprados e não lidos impunimente. Lembro que sai da livraria com um sorriso no rosto e completamente despreocupada. Quanto a Zuenir, outra paixão...1968, o ano que não terminou. Foi a glória de alguém que estava entrando em contato com a repressão dos anos 80. Uma das contribuições a minha militância de esquerda. O tema da conversa girou sobre o último livro - Conversas sobre o tempo, análise e critica literária, alguma coisa sobre política. Zuenir falando que votou na Marina e LFV explicando por que votou na Dilma. Fiquei sabendo de posturas desses dois maravilhosos escritores, entre elas que sigo o homem errado. Sim, seguia Luiz Fernando Verissímo através do Twitter  e ontem ele esclareceu que não tem twitter. Também, soube pela boca de dois escritores consagrados, que não sou a única que sofre para escrever. Eles também. Realmente, apesar dos meus ímpetos, tive que agir com uma pacífica leitora e não gritar e nem fazer alarde do quanto sou apaixonada por ambos. Não pegaria bem.

- O segundo momento foi com Olívio Dutra e Judite. Um casal muito especial. Consegui depois de muita timidez, tirar uma foto com os dois. Disse a eles, que tive o privilégio de trabalhar na primeira gestão do PT aqui na prefeitura de Porto Alegre. Me senti um pouco como tiete mas Olívio e Judite, são um casal cuja descrição, me faltam adjetivos.
- O terceiro é último momento foi triste. Na saída, vimos um aparato de policiais, inclusive motorizados e uma multidão de pessoas. Tudo isso para conduzir até o posto da brigada militar na praça XV. A escritora Telma Sherer que é formada em filosofia, mestre em Literatura e autora de dois livros, de acordo com algumas pessoas, ela apareceu à tarde em meio às bancas, acorrentada pelo pescoço a uma casinha de cachorro e com um cartaz onde se lia "Não alimente o escritor", repleto de contas pagas pela artista. Uma situação que é conhecida por boa parte dos autores, aspirantes e desconhecidos. Foi lamentável o que  ocorreu mas também uma boa oportunidade para que os organizadores possam pensar na possibilidade de uma tribuna livre, onde o autor possa expressar seus descontentamentos também.  Infelizmente não temos em termos de literatura, um acesso rico e vasto pela população. Nosso país dá os primeiros passos para ampliar o acesso a educação resultando assim o em um número maior de leitores. Não é fácil, pra quem tem que pagar aluguel, comer, se vestir, poder ter a dedicação exclusiva na literatura como sonhos de muitos( meu inclusive). 
Desejo que as próximas edições da Feira do livro, esse material precioso, esteja mais acessível, que os preços caiam, que haja espaço para manifestações como a de Tania e que todas as coisas boas continuem e se ampliem.
Por fim, voltei pra casa junto com a minha filha, completamente esta encantada com o autográfo de Luiz Fernando Verissímo e eu feliz por ter vivido meu dia de tiete.

sábado, novembro 06, 2010

Calem a boca, Nordestinos

Leiam esse texto na íntegra, é magnífico!
Parabéns Jose Barbosa Junior!
 

Por José Barbosa Junior 

As eleições de 2010 trouxeram à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial  Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura. E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros à força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país. Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!
 
 

terça-feira, novembro 02, 2010

Que saudades da minha Porto Alegre

Neste domingo, dia das eleições, depois de votar fui com a minha filha visitar a Feira do livro. Em todo percurso comecei a observar o quanto Porto Alegre esta diferente dos anos 90. Vi ruas sujas, moradores de rua em todos lugares, terminal de ônibus, praças. Jardins públicos mal cuidados. Uma Porto Alegre cinza. Não quero  parecer saudosista mas eu tinha muito orgulho da minha cidade. Mas afnal, o que esta acontecendo. O número de moradores de rua aumentou? Porque? Falta verba para iluminação pública, para manutenção de praças e jardins? Pagamos impostos, onde este dinheiro esta sendo aplicado? As políticas públicas não deveriam se direcionar para o povo mais carente? Não sei o que vem ocorrendo. Passei em um dos condominios feitos pela prefeitura ali quase na esquina da princesa Isabel e antes bonito e bem cuidado agora estava envelhecido, desfigurado. Ai entra não apenas a questão da prefeitura mas a própria cultura de um povo. Os moradores também são responsáveis pelo bom funcionamento da sua cidade. Principios básicos. A pobreza não pode ser motivo para desleixo. Além disso chegando a Feira do Livro pude constatar o absurdo dos preços dos livros, 50, 40, 39. Os livros baratos eram os usados. Cheguei a ver livros que custavam mais de 70 reais. Que cultura é essa que não privilegia a leitura. Fala-se muito em pirataria. Mas isso acontece pelos absurdos preços cobrados. Vi muita gente na feira mas poucos com sacolas. Os livros que gostaria de comprar sairiam mais de 200 reais. Um valor alto pra mim que sou jornalista(ganho Pouco). A nossa sociedade somente vai evoluir quando se voltar á educação, cultura, valores. Enquanto isso, quem ganha casa da prefeitura não dá o devido valor. Quem paga imposto não vê a aplicação disso em politicas sociais e se depara com ruas e praças sujas. Como tenho saudades da minha antiga Porto Alegre, aquela em que o grande poeta Mario Quintana dizia.......
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...