Ontem vivi três momentos marcantes em visita a Feira do Livro em Porto Alegre. - O primeiro foi a participação no I Seminário Nacional de Crítica e literatura com os autores - Zuenir Ventura e Luiz Fernando Verissímo que abriram o evento. Quando soube que Luiz Fernando Verissímo iria participar das conversações, fiquei um pouco preocupada. É fato que tão ilustre autor sabe manusear palavras mas não gosta muito de articulá-las. Quanto a Zuenir, sempre foi e é bem falante. No início do bate-papo mediado por Roger Lerina, jornalista RBS, foi muito agradável. Ao contrário do que pensei, Luiz Fernando deu preciosas contribuições e gerou algumas boas risadas na platéia. Vendo ali, dois autores tão presentes comecei a pensar o quanto eles sempre fizeram parte da minha vida. Fui apaixonada por Érico Verissímo, quase ao mesmo tempo que curtia a paixão pelo filho Luiz Fernando.
Eu tinha 16 anos e estudava no Instituto Educacional São José, vivíamos um tempo de ditadura. Na época eu vivia preocupada com meus pais, com minhas notas e de como pagaria uma faculdade. Um dia, na volta pra casa entrei na livraria do Globo( na época em que livraria era livraria mesmo e não shopping) e olhando os livros, abri um de LFV e li a história de Ed Morte. Comecei a rir até que um vendedor me alertou que os livros eram para ser comprados e não lidos impunimente. Lembro que sai da livraria com um sorriso no rosto e completamente despreocupada. Quanto a Zuenir, outra paixão...1968, o ano que não terminou. Foi a glória de alguém que estava entrando em contato com a repressão dos anos 80. Uma das contribuições a minha militância de esquerda. O tema da conversa girou sobre o último livro - Conversas sobre o tempo, análise e critica literária, alguma coisa sobre política. Zuenir falando que votou na Marina e LFV explicando por que votou na Dilma. Fiquei sabendo de posturas desses dois maravilhosos escritores, entre elas que sigo o homem errado. Sim, seguia Luiz Fernando Verissímo através do Twitter e ontem ele esclareceu que não tem twitter. Também, soube pela boca de dois escritores consagrados, que não sou a única que sofre para escrever. Eles também. Realmente, apesar dos meus ímpetos, tive que agir com uma pacífica leitora e não gritar e nem fazer alarde do quanto sou apaixonada por ambos. Não pegaria bem.
- O segundo momento foi com Olívio Dutra e Judite. Um casal muito especial. Consegui depois de muita timidez, tirar uma foto com os dois. Disse a eles, que tive o privilégio de trabalhar na primeira gestão do PT aqui na prefeitura de Porto Alegre. Me senti um pouco como tiete mas Olívio e Judite, são um casal cuja descrição, me faltam adjetivos.
- O terceiro é último momento foi triste. Na saída, vimos um aparato de policiais, inclusive motorizados e uma multidão de pessoas. Tudo isso para conduzir até o posto da brigada militar na praça XV. A escritora Telma Sherer que é formada em filosofia, mestre em Literatura e autora de dois livros, de acordo com algumas pessoas, ela apareceu à tarde em meio às bancas, acorrentada pelo pescoço a uma casinha de cachorro e com um cartaz onde se lia "Não alimente o escritor", repleto de contas pagas pela artista. Uma situação que é conhecida por boa parte dos autores, aspirantes e desconhecidos. Foi lamentável o que ocorreu mas também uma boa oportunidade para que os organizadores possam pensar na possibilidade de uma tribuna livre, onde o autor possa expressar seus descontentamentos também. Infelizmente não temos em termos de literatura, um acesso rico e vasto pela população. Nosso país dá os primeiros passos para ampliar o acesso a educação resultando assim o em um número maior de leitores. Não é fácil, pra quem tem que pagar aluguel, comer, se vestir, poder ter a dedicação exclusiva na literatura como sonhos de muitos( meu inclusive).
Desejo que as próximas edições da Feira do livro, esse material precioso, esteja mais acessível, que os preços caiam, que haja espaço para manifestações como a de Tania e que todas as coisas boas continuem e se ampliem.
Por fim, voltei pra casa junto com a minha filha, completamente esta encantada com o autográfo de Luiz Fernando Verissímo e eu feliz por ter vivido meu dia de tiete.