Antropólogos contra mentiras da Veja
sexta-feira, 7 maio, 2010 às 18:21
Gomes e Viveiros de Castro acusam Veja de inventar declarações
Uma vez um amigo meu jornalista me disse que na Veja as matérias e o que elas devem dizer são pensadas na redação e que os repórteres têm que ir à rua para corroborá-las, mesmo que os fatos as contradigam. Achei que isso seria demais, quase uma versão jornalística do arroubo de Jarbas Passarinho ao aprovar o AI-5, quando disse “às favas os escrúpulos”. Na Veja, vigoraria algo como “às favas os fatos”.
Depois, à medida que fui vendo como a revista criminalizava o movimento social e atacava indistintamente as forças mais progressistas da sociedade brasileira, percebi que o que tinha ouvido não estava muito longe da verdade. Esse fato me veio à mente agora quando tomo conhecimento de que dois conceituados antropólogos brasileiros estão acusando a Veja de inventar declarações deles para embasar a matéria “A farra da antropologia oportunista”, publicada na edição desta semana e na qual ataca a demarcação de terras indígenas e de quilombolas.
O ex-presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, professor da Universidade Federal Fluminense, que trabalhou com Darcy Ribeiro, escreveu em seu blog que “mais uma vez a Veja traz em suas páginas matéria cheia de injúrias aos povos indígenas brasileiros”. A revista utilizou o que seria uma declaração de Mércio feita há quatro anos, o que foi repudiado pelo antropólogo.
“Denego-lhe o falso direito jornalístico de atribuir a mim uma frase impronunciada e um sentido desvirtuante daquilo que penso sobre a questão indígena brasileira”, disse Mércio sobre o jornalismo da Veja. O antropólogo afirmou que foi procurado pela revista, passou seus telefones, mas não foi ouvido.
A mesma matéria já tinha sido contestada por outro antropólogo, Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acusou a revista de atribuir “mentirosamente” a ele uma frase publicada. “Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma”, escreveu, em carta enviada à revista.
A Veja respondeu dizendo que fez contato com a assessoria de imprensa do Museu Nacional, que lhe teria recomendado ler um artigo do antropólogo, e que a frase publicada “espelha opinião escrita mais de uma vez em seu texto”.
Assim como Mércio, Viveiros de Castro confirma que foi procurado pela Veja, através da assessoria de imprensa do Museu Nacional, mas que evitou ser fonte da matéria. “Respondi que não pretendia sofrer qualquer espécie de contato com esses profissionais, visto que tenho a revista em baixíssima estima e péssima consideração.”
O episódio deixa em alerta as pessoas procuradas pela Veja. Assim como nos filmes policiais americanos, tudo o que elas disserem poderá depor contra elas.
Brizola Neto
sexta-feira, 7 maio, 2010 às 18:21
Gomes e Viveiros de Castro acusam Veja de inventar declarações
Uma vez um amigo meu jornalista me disse que na Veja as matérias e o que elas devem dizer são pensadas na redação e que os repórteres têm que ir à rua para corroborá-las, mesmo que os fatos as contradigam. Achei que isso seria demais, quase uma versão jornalística do arroubo de Jarbas Passarinho ao aprovar o AI-5, quando disse “às favas os escrúpulos”. Na Veja, vigoraria algo como “às favas os fatos”.
Depois, à medida que fui vendo como a revista criminalizava o movimento social e atacava indistintamente as forças mais progressistas da sociedade brasileira, percebi que o que tinha ouvido não estava muito longe da verdade. Esse fato me veio à mente agora quando tomo conhecimento de que dois conceituados antropólogos brasileiros estão acusando a Veja de inventar declarações deles para embasar a matéria “A farra da antropologia oportunista”, publicada na edição desta semana e na qual ataca a demarcação de terras indígenas e de quilombolas.
O ex-presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, professor da Universidade Federal Fluminense, que trabalhou com Darcy Ribeiro, escreveu em seu blog que “mais uma vez a Veja traz em suas páginas matéria cheia de injúrias aos povos indígenas brasileiros”. A revista utilizou o que seria uma declaração de Mércio feita há quatro anos, o que foi repudiado pelo antropólogo.
“Denego-lhe o falso direito jornalístico de atribuir a mim uma frase impronunciada e um sentido desvirtuante daquilo que penso sobre a questão indígena brasileira”, disse Mércio sobre o jornalismo da Veja. O antropólogo afirmou que foi procurado pela revista, passou seus telefones, mas não foi ouvido.
A mesma matéria já tinha sido contestada por outro antropólogo, Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acusou a revista de atribuir “mentirosamente” a ele uma frase publicada. “Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma”, escreveu, em carta enviada à revista.
A Veja respondeu dizendo que fez contato com a assessoria de imprensa do Museu Nacional, que lhe teria recomendado ler um artigo do antropólogo, e que a frase publicada “espelha opinião escrita mais de uma vez em seu texto”.
Assim como Mércio, Viveiros de Castro confirma que foi procurado pela Veja, através da assessoria de imprensa do Museu Nacional, mas que evitou ser fonte da matéria. “Respondi que não pretendia sofrer qualquer espécie de contato com esses profissionais, visto que tenho a revista em baixíssima estima e péssima consideração.”
O episódio deixa em alerta as pessoas procuradas pela Veja. Assim como nos filmes policiais americanos, tudo o que elas disserem poderá depor contra elas.
Brizola Neto
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