sábado, maio 08, 2010

Dia das mães, um dia da minha mãe.

Minha mãe morreu com 50 anos, com uma vida marcada por doenças, falta de dinheiro, trabalho. De uma família pobre do interior fora criada por sua madrinha, uma mulher que adorava. Era costume aqui, no interior gaúcho que os padrinhos, quando tinham boas condições financeiras criassem seus afilhados menos afortunados. Sua madrinha era uma italiana e lhe ensinou a alegria de viver. Minha mãe era uma mulher negra, que mal sabia ler. Meu pai , um homem branco foi quem lhe ensinou um pouco do que sabia e depois ela se instruiu com outros professores. Seu maior sonho era ser professora. Era muito bonita, tinha charme. Meu pai se apaixonou a sim que a viu. A quarenta anos atrás não era comum negros e brancos se casarem porém com eles o caso foi diferente, se casaram e esta união durou até a morte da minha mãe. A minha vida era atormentada pelas constantes brigas entre os dois. Engraçado, agora depois que ambos se foram parece que tudo que acontecia não era de verdade. Eu aprendi a ler e escrever com quatro anos de idade e somente hoje estou escrevendo sobre minha mãe. Ela era honesta, trabalhadora, infantil, guerreira, delicada, feminina, bruxa, intuitiva, com uma energia de dar inveja mesmo com as doenças. Poderia ter sido feliz se fosse mais flexível. Como a maioria das pessoas, nós duas tínhamos muitos problemas. Eu me irritava com ela e ela comigo. Hoje vejo que na verdade éramos muito parecidas. Ela me ensinou a ser forte, a ter coragem, a não desistir dos meus sonhos a sempre acreditar na instrução. Ela me ensinou a ter valores e cultivar estes valores. Passei isso pra minha filha como um legado precioso. As vezes eu olho pra mim e vejo a minha mãe. Sinto falta dela. Sinto falta dela exigindo que eu me levantasse quando estava prestes a cair. Sinto falta da sua energia mesmo na doença. Sinto falta das oportunidades que perdi, das coisas que não disse e de sentimentos que não soube expressar. Agora, como mãe eu vejo os motivos das suas preocupações e a compreendo. Entendo todas as mães. Uma mãe não dura para sempre, elas se vão e nos deixam, não sós, mas com os ensinamentos que nos transmitiram uma vida inteira. As vezes leva tempo para que percebamos isso mas essa é a verdadeira herança da humanidade. O amor incondicional das mães resiste ao tempo, as desavenças, a morte. Mesmo depois de tudo sempre haverá aquele afeto que nos aquece nos Invernos da vida. Dia das mães, dia da minha mãe.

3 comentários:

Zara S. Maior disse...

Olá meu anjo,

Seu depoimento foi muito sincero e comovente.
Perdi a minha mãe(presença física)
com 14 anos e lembro que mesmo na dor, ela continuava guerreira e mãe.
Sabe anjo, as mães não deveriam morrer......

Beijos com aroma de rosas
Zara

Tais Luso de Carvalho disse...

Que incrível este texto: isto acontece com muita filhas e filhos. Quando nossos pais se vão, fica uma culpa incrível do que não fizemos, ou que poderíamos ter feito. Achamos que nunca foi o bastante, que deveríamos ter sido mais compreensivas, mais tolerantes, mais isso, mais aquilo. Mas fomos o que podíamos ser! E elas nos deram o que podiam dar.

Hoje levo isso numa boa, a pior coisa é ficarmos nos culpando e achando que tudo foi maravilhoso. Não, muitas coisas foram péssimas dos dois lados. Mas somos assim, seres imperfeitos e só temos de aceitar isso.

Hoje, perdôo minha mãe pelo que deixou de fazer, e me perdôo pelo que não fiz.
Sei que é uma barra, Fátima, mas partindo do princípio que nada fizemos por mal, premeditado, nada a ser condenado. Estas coisas são próprias do ser humano, meio falhado... Em todas as famílias encontramos coisas semelhantes.

Também sinto saudades de minha mãe, penso que se retornasse, tudo seria diferente... Mas hoje tenho outra cabeça. Não deu tempo...

Beleza de texto, amiga!
Beijos, voltarei para te ler.
Tais Luso

Tânia Marques disse...

Querida, chorei ao ler teu texto, emocionei-me muito mesmo. Coloquei-me no teu lugar como filha e mãe que sou. Minha mãe está um caquinho, mas ela é minha mãe, eu a amo de qualquer jeito, doente ou não, arrumada ou desajeitada, caminhando ou não, fazendo xixi na calça ou não. É ela que, ainda assim, consegue reunir forças para não deixar a minha vida ruir diante da imensidão de problemas que tenho. Na verdade, todas as pessoas aprendem a valorizar e a olhar seus pais somente depois que elas exercem esses papéis, no caso, para valorizar uma mãe, é necessário ser mãe, etc. Isso acontece com todos, não foi somente contigo. Não se culpe por nada, a gente tendo um bom coração é o que importa. Valores são raros, nós os herdamos, isso é maravilhoso. Beijos