Hoje estava pesquisando os principais assuntos do dia e entrei no Blog do advogado Quaresma Firpe, advogado do goleiro Bruno.
Em primeiro lugar fiquei muito surpresa porque ali, no blog o advogado colocou a defesa do goleiro Bruno e dos demais envolvido. Como sou jornalista, resolvi ler os comentários e me defrontei com um pequeno roteiro de um programa de televisão que vai ao ar todas as tardes. Eu imagino que programa é este porém, deixo a resposta com a identificação dos leitores. Um roteiro muito bem escrito, não sei o nome do autor porque consta no blog apenas Anônimo. Abaixo deixo o texto.
- Programa “Chá da Tarde” (1) Apresentadora – Hoje o nosso programa está repleto de novidades sobre esse caso Bruno, que tanto tem atraído a atenção dos nossos telespectadores, pelos seus detalhes inusitadamente bárbaros, com essa jovem que supostamente encontrou a morte numa estrada na região metropolitana de Belo Horizonte, em Contagem, ou esquartejada num sítio em Vespasiano, ou nas imediações de um sítio em Esmeraldas, ou mesmo a coronhadas no interior de um veículo, nacional ou importado (BMW ou Land Rover), ou ainda, enfim, em alguma grota no caminho de Rio para Minas, parando ou não num motel em Contagem, para onde fora levada ENGANADA por falsas promessas do goleiro e de seus comparsas. Contamos hoje com a presença do nosso especialista em criminologia, o Dr. Barão de Munchausen, que sempre tem estado conosco, e com a assistência da advogada, ex-promotora, Dra. Maga Patológica, com suas observações sempre pertinentes e não menos contundentes. Sei que está nos assistindo, podendo entrar na linha para falar conosco, a qualquer momento, o operoso delegado Sidnei Romeiro, carinhosamente apodado “homem de Neanderthal”, ou simplesmente, em bom português, Neandertal. Iniciamos então a nossa conversa perguntando ao ilustrado Barão, que daqui para frente, para simplificar, chamaremos simplesmente de Barão, o seguinte: de posse de cópia desse volumoso e detalhadíssimo inquérito, Dr. Munchausen, que o senhor obteve em primeiríssima mão de um certo Dr. Carteiro, advogado da mãe de Eliza, para dele extrair novas informações para nossos telespectadores, que importantes revelações, que bombas o senhor tem para nos apresentar (não há necessidade de explosões reais, Doutor, que de violência estamos todos cheios!), as quais CERTAMENTE complicam mais ainda a situação do atleta? Munchausen – Com certeza, Silvia, eu tenho dito por aí, acabei até de falar com pessoas que me reconheceram quando subia no elevador, que este caso desafia a capacidade de indignação e de estarrecimento da sociedade brasileira. Como podem ser, esses seres, Silvia, assim tão soturnos, satânicos e macabros?... Folheio ao acaso a parte do processo que contêm os laudos e as fotografias, um trabalho realmente muito positivo, esteado em procedimentos científicos, da Polícia Civil de Minas Gerais, que não deixa dúvidas, que contém indícios, provas, ilações, deduções e evidências irrefutáveis, suficientes para indiciar, pronunciar, acusar e calu..., digo, condenar todos os nove réus, sem dúvida alguma... Maga – Aliás, Silvia, Barão e telespectadores que nos assistem, dando o meu boa-tarde a todos, cabe trazer à colação que já houve um veredictum de crime de assassinato neste caso, proferido pelo juizado especial de menores, que condenou o menor que seria primo desse cidadão que atende por Bruno a internação por tempo INDETERMINADO, pelos crimes de seqüestro, cárcere privado e assassinato. Só se livrou, o indigitado jovem, que já ensaia os primeiros passos pela criminalidade, da acusação de ocultação de cadáver, por ter o douto magistrado entendido que não se pode enquadrá-lo nesse delito, por não haver provas materiais de sua participação nessa fase final do procedimento criminoso, por estarem tais provas ardilosamente ocultas com o cadáver, se bem que as incansáveis buscas pelo corpus delicti ainda continuem e a qualquer momento... Apresentadora – Oh... bem lembrado, doutora! E o goleiro Bruno cada vez se complica mais!... Mas vejo que o nosso Barão encontra-se excitado para retornar ao seu raciocínio...
- Programa Chá da Tarde (2) Munchausen – Sim, Silvia, pegando um gancho na parte final do pronunciamento da colega Patológica, gancho este que prometo não usar para enforcar ninguém, eu tenho aqui uma seqüência de fotos magníficas, tiradas na casa do sanguinário ex-policial Marcos Aparecido, cognominado Bola (apelido este que seria uma homenagem ao seu ídolo, o futebolista Bruno, agora companheiro seu no banco dos réus); são fotos tiradas na casa de Bola APÓS os fatos miríficos e terríveis de que todos temos conhecimento, que culminaram na morte brutal de Eliza Samúdio, interrompendo em seus primórdios uma carreira cinematográfica assim tão promissora... Veja você, Silvia, e também você Maga, e os nossos telespectadores que nos assistem: em nenhuma dessas fotos há sequer vestígio do corpo dessa jovem, uma mão, um braço, uma perna, um fio de cabelo, com ou sem o bulbo... O que COMPROVA e RATIFICA o primeiro depoimento do menor, de que a vítima teria sido DEVORADA pelos adestradíssimos cães do Sr. Bola. Tão bem comida, como nunca fora antes, que não sobraram vestígios! Por isso eles pensavam ter cometido o crime perfeito. Ledo engano... E olha só esses relatórios da equipe do Departamento de Geologia da UFMG, que esteve lá com sensores e tudo o mais: nenhum vestígio nem de ossos nas estruturas, nas vigas, nas lajes, nas fundações, nas sapatas, no quintal... Até os ossos se foram. Não admira que os cachorros tenham morrido! Não espanta que o Sr. Bola estava preocupado com a saúde desses animais!... Maga – O que EVIDENCIA MAIS UMA VEZ que este foi um crime premeditado há longo tempo. O sórdido pagamento de R$ 3.000,00 (sinceramente, telespectadores, eu teria pedido muito mais!) teria sido feito pelo Bruno ao Bola nos idos de fevereiro, quando nasceu o bebê. Bola exigiu pagamento adiantado, já antevendo que Bruno teria dificuldades financeiras por um certo tempo após o crime. Tudo muito bem e friamente planejado, sem dúvida. Mas, quem diria, uma criança, o Bruninho, herdeiro dessa tragédia friamente passional, arruinou os planos de impunidade dos meliantes, ao desatar no choro quando os braços assassinos de Bola e Macarrão já enlaçavam o seu pescocinho... Apresentadora – Oh, meu Deus, eu acho isso tudo tão patético...tão INACREDITÁVEL!... Munchausen – Mas é tudo verdade, Silvia. INFELIZMENTE. E vejam também, Silvia, Maga e você, telespectador que nos assiste em casa, esses mapas da região por onde transitaram os envolvidos no crime, de acordo com os rastreamentos das antenas dos celulares e com os dados registrados nos aparelhos GPS dos veículos apreendidos. Como a tecnologia pode ajudar a desvendar esses crimes! Por exemplo, considerando que a defesa certamente VAI ALEGAR, como se informa, que o Bruno não esteve no sítio entre os dias 7 e 10 de junho de 2010, e que ele não teria visto Eliza nesse período, então esses laudos demonstram, cientificamente, que ele MENTIU e MENTIRÁ sempre sobre todos os episódios deste caso, sendo portanto o mandante, se não também coexecutor, desse crime horrendo. Apresentadora – Fantástico, um raciocínio assim tão brilhante só poderia ocorrer a um homem tão extraordinário como o Senhor, Dr. Barão de Munchausen: como nossas conjeturas sobre o futuro podem lançar uma luz sobre os fatos do passado! O Senhor supera a Eliza, coitadinha, que previu o seu destino trágico várias vezes, quando dizia “se acontecer alguma coisa comigo, já sabem quem foi”, não é mesmo? Isto sem perder o bom-humor, que ela era uma menina forte, corajosa; pois num dos e-mails que mandou para suas amigas, ela chega a achar graça da situação, se bem me lembro, quando diz assim: “estou indo para Minas Gerais, a convite do Bruno; se acontecer alguma coisa comigo, já sabe quem foi, não é? eh, eh, eh...” Pobrezinha, parece que a estou ouvindo rir...não sabia o que a esperava, a coitada.
- Programa Chá da Tarde (3) Maga – Aliás, Silvia, este parece ser um dom da família, o da profecia. Vocês bem se recordam, telespectadores, Barão e Silvia, que o ilibado Sr. Luis Carlos Samúdio, sobre quem pesa uma injusta condenação por estupro, felizmente ainda não transitada em julgado, dois ou três dias antes da primeira confissão do menor, disse, profeticamente, no programa da Ana Maria Braga: “as investigações estão se afunilando, e pela quantidade de pessoas envolvidas no caso podemos aguardar que, dentro em breve, teremos revelações contundentes sobre esse caso”. E vocês vejam só, logo em seguida o Júnior, primo do facínora Bruno, tem aqueles pesadelos com Eliza morta, vai ao tio, este vai à Rádio Tupi... Apresentadora – Oh, Maga, é mesmo, não tinha ainda pensado nisso... E o pobre, todo desconsolado, como que já sabendo do trágico desenlace, dizendo “ela já não está mais entre a gente”! Como deve ser difícil para um pai dizer uma coisa dessas, mesmo sem notícias do corpo da filhinha...Com certeza, ele é um Samúdio! Mas parece-me que agora o nosso ilustre delegado Neandertal, sem o qual certamente este caso não teria chegado onde chegou, está na linha, e com certeza, mercê de sua imaginação inesgotável, irá trazer-nos outros elementos de interesse. Doutor, muitos telespectadores têm-nos perguntado como fica a situação desse processo em face do outro processo lá do Rio, onde foi aceita a denúncia contra Bruno e Macarrão por seqüestro, cárcere privado, lesão corporal, tentativa de aborto forçado etc., tudo conforme reiteradas denúncias e queixas da infeliz atriz. São tantos crimes que a gente inté perde a conta, não é mesmo Doutor?... Neandertal – Sim, sim, Silvia, são todos uns monstros carnívoros psicopatas! E essa denúncia que foi aceita no Rio é certamente mais uma PROVA de que o crime de Minas ocorreu, não é mesmo Silvia?... Apresentadora – Er, Doutor, na verdade foi bem o inverso que sucedeu, não é mesmo?...O processo do Rio estava meio que parado, e subitamente tomou alento com as robustas provas colhidas em Minas sobre o comportamento criminoso da dupla, digo trinca (ou seria novena?)... Minas liderou processualmente este carnaval, digo, cortejo macabro, não é mesmo Doutor?... Neandertal – Nem tanto, Silvia, sabe, como diz o velho ditado, a ordem dos tratores não altera o viaduto. Mas os processos judiciais realmente se comunicam e interagem, pelo princípio físico dos vasos comunicantes, você me entende? Tem até uma história engraçada que se conta aqui em Minas, de um professor que tentava explicar a um aluno o que seria o telégrafo-sem-fio, uma história que se aplica bem ao nosso caso. Posso contar aos seus telespectadores? Apresentadora – Claro, Dr. Neandertal, estamos todos ansiosos para ouvi-lo! Neandertal – Pois é, Silvia, o professor diz o seguinte: -“Imagine um cachorro bassê, tão comprido, que a cabeça está no Rio e a ponta do rabo em Minas. Se se belisca a ponta do rabo, em Minas, a cabeça, no Rio, pega a latir...”. Aí o aluno, esperto, interrompe: -“E é isso o telégrafo-sem-fio?” Então o mestre arremata, triunfante: -“Não. Isso é o telégrafo com fio. O sem-fio é a mesma coisa...mas sem o corpo do cachorro.” Então é isso, Silvia, esse processo de Minas é como esse cachorro bassê...sem o corpo. Mas quem precisa de corpo, se a imaginação tem asas, não é mesmo Silvia? Vocês da mídia mais do que ninguém sabem disso, não é? Eh, eh, eh...
- Programa Chá da Tarde (4) Apresentadora – GEN-I-AL, Doutor, eu sempre fico SUB-JU-GA-DA por seus ditos espirituosos... Se bem que um nosso telespectador, internauta, nos advirta, neste momento, que já leu algo parecido na obra de Guimarães Rosa. Para finalizar, como o Senhor resumiria o brilhante trabalho investigatório desenvolvido pela polícia mineira, até o momento, nesse terrível, espantoso caso?... Neandertal – Silvia, acho que conseguimos reescrever uma velha fórmula. Provamos que se viemos do nada, é claro que vamos para o tudo. Quanto ao Rosa, não sei se posso revelar que muitos dos absurdos ou paradoxos que ele coletou para o prefácio de um de seus livros foram inspirados nos nossos trabalhos de investigação. Eh, eh, eh... Maga – Eh, eh, eh... Munchausen – Eh, eh, eh... Apresentadora – Ah, Doutor, o Senhor é simplesmente TERRÍVEL. E assim encerramos mais um programa Chá da Tarde, agradecendo ...eh,eh, eh...desculpem o riso, telespectadores, mas o Dr. Neandertal é DEMAIS... agradecendo a presença de nossos convidados, lembrando que aqui você, telespectador, tem todas as informações em primeira mão. O nosso convidado de sempre, o nosso ilustrado Barão de Munchausen, brindou-nos hoje com documentos a que nem a defesa dos acusados, com todos os recursos supostamente a ela inerentes, teve acesso! Vamos sair agora para tomar o nosso chazinho num shopping aqui próximo, e eu espero me deleitar com mais algumas pérolas do seu anedotário da caça e pesca, não é mesmo, Muncha?... Obrigada, Maga, depois vou querer aquela sua receita da milagrosa poção da verdade, aquela que faz até o Mudinho abrir o bico para responder ao processo em liberdade... Boa tarde a todos e até amanhã!
Um comentário:
Fátima, eu escrevi esse texto justamente porque esse caso de tão estranho, tão mal contado, acabou ficando angustiante, então procurei ver a situação com humor, até para não chorar. Escolhi o anonimato, de que não gosto, porque fico até preocupado com processo, nas circunstâncias, porque se pessoas que não fizeram rigorosamente nada (pois algumas COM CERTEZA não fizeram)estão presas há mais de um mês (tendo passado um período sem poder receber visitas!), alguém que explicitamente tenta desmascarar a atuação da polícia no caso pode até ser alvo de alguma represália, sei lá.
Não tenho dúvida, esse processo do Bruno, o processo em si, não os fatos, que não se sabe qual são, esse processo é uma coisa medieval, inacreditável.
Em todo o caso, no seu espaço, não vejo porque ocultar meu nome.Bom que o texto chamou a sua atenção.
Abraço.
Marcos
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